terça-feira, 7 de setembro de 2010

"Conhece-te a ti mesmo".


Conrado tinha um segredo...

Profissional qualificado e reconhecido na multinacional onde trabalhava como diretor comercial, coordenava brilhantemente seus subordinados na área, sempre atuando com rigidez, mas ao mesmo tempo, agindo com simpatia e flexibilidade. Admirado por seus colegas, era sempre elogiado pelos superiores.

Carro último modelo, sempre brilhante, lustrado minunciosamente como um diamante precioso. Roupas arrojadas, modernas e das melhores grifes. Vaidoso, Conrado não descuidava da pele - esta, sempre aparentando menos idade -, dos cabelos, das unhas. Cuidava do corpo, fazia atividades físicas regularmente, era adepto das dietas alternativas e balanceadas e constantemente visitava sua nutricionista para verificar sua regrada alimentação.

Casado, ele era pai de duas adoráveis meninas: Amanda e Mayara. Sua esposa Alice, era uma jovem e graciosa mulher, no auge dos seus 32 anos de idade, mas assim como o marido, dificilmente alguém lhe diria que possuia esta quantidade de aniversários.

Morava em uma elegante casa em um dos novos bairros nobres da capital, onde ostentava luxo e sofisticação em uma propriedade estrategicamente arquitetada e cuidadosamente planejada.

Aos olhos das pessoas, aquelas que sempre enxergam apenas o que querem ver, aquela era a típica família, tradicional e perfeita. Família de porta retratos. Mas, em se tratando de gente, ser humano é sempre ser humano, com suas infindáveis ambiguidades, opostos e dilemas.

Sempre ao voltar de mais um estafante mas proveitoso dia de trabalho, Conrado passava algumas horas em família, mas nunca conseguia fazer seu lar ser tão doce como desejava...

Deitado em sua espaçosa cama, parava e reflitia alguns segundos. Talvez minutos. Horas. Noites inteiras. Semanas. Meses. A vida passava como um flash em sua mente, que insistia em buscar fatos vividos no passado, relacionando-os com os corriqueiros do presente e imaginando como seriam os momentos do porvir...

Deparar-se com si mesmo, assustava violentamente Conrado, mas, ele sabia que não tinha para onde fugir. Fugir de si mesmo. Das suas próprias angústias, anseios e sentimentos. Não conseguia entender porque não era feliz apesar de ter uma vida tão esplendorosa, cheia de riquezas, bens, alegrias e motivos para agradecer fielmente a Deus todos os dias por possuir.

Para ele, parecia que nada disto importava. Não era esta a verdadeira felicidade. Não era esse o sentido melhor e mais essencial da vida.

Amava sua esposa, suas filhas e tudo o que conquistou ao longo destes anos com tanto sacrifício, perseverança e bravura, mas sabia que no fundo, eram apenas pedaços...Tudo o que tinha e que valorizava eram pedaços de uma vida incompleta e vazia de um sentido maior.

Vivia na realidade, uma fachada, onde automaticamente trabalhava, comprava, planejava, amava e não conseguia por fim, se desvencilhar deste ciclo material, insosso e sem fim. Quanto mais alcançava, mais desejava o topo. Quando mais conseguia, mais queria ter o que conseguir. Quando mais vencia, mais desejava obter novas vitórias...

Agora, toda noite, querendo ele ou não, se deparava com um lugar escuro. Fechado. Solitário. Sem respostas em meio a tantos questionamentos. Um lugar onde era o que era de verdade. Sem máscaras, sem grifes, sem troféus, aplausos ou desejos conquistados. Era ele. Simples, comum, pequeno e vazio. Apavorado, quanto mais queria sair deste lugar por vezes tão sombrio, mas se encontrava dentro dele. Como num labirinto sem saída.

Porque se sentia assim? Para que frequentar tão ardiloso ambiente? Porque toda noite ia parar alí?

Este era seu segredo...Seu mais temido e guardado segredo...Ao mesmo tempo que não gostava de encarar este "seu lugar", temia sinceramente por outros encontrarem este seu cantinho tão seu, tão misterioso...

Prometendo não contar isso para ninguém, talvez nem para ele mesmo, sabia que este lugar era a sua alma...

Quantas vezes vivemos porque temos que viver? Quantas vezes ligamos no automático e fazemos tudo o que a programação exige que façamos? Quantas vezes esquecemos quem verdadeiramente somos para assumirmos um papel tão mais conveniente?

Conhecer a si mesmo, trata-se de uma árdua e difícil façanha que um dia, querendo ou não querendo, todos nós teremos de lidar. Que isso então seja com respeito, aceitação e carinho. Amor a nós mesmos.

Que tenhamos luz, vida e sorrisos toda vez que nos depararmos com nosso "quarto escuro"...

Love and accept yourself. - F.G.